InícioMúsicaMatilde Muocha Responde à Pergunta, O que são industrias culturais?

Matilde Muocha Responde à Pergunta, O que são industrias culturais?

Caracultura conversou com Matilde Muocha, especialista em indústrias culturais e criativas em Moçambique, dentro do contexto das acções de formação em Music Business da Crossroad. Três questões basilares guiam a nossa conversa, sendo que em cada edição iremos aflorar cada uma delas.

De repente o termo indústrias culturais e criativas invadiu o nosso manancial de vocabulário através de jornais, revistas e livros. As vezes reproduzimos o termo nas nossas conversas, e as vezes até inventamos projectos para a área! Mas o certo é que, seja como indivíduos ou artistas, ainda temos um entendimento artesanal sobre o que é ou que são (veja só a dificuldade de usar o singular ou plural!) indústrias culturais e criativas. Eis a razão porque procuramos ouvir de quem é estudiosa da área, afecta ao ISArC – Instituto Superior de Artes e Cultura, para nos explicar porque carga de águas esse termo existe, e essencialmente, o que é?

E explicou-nos assim –  Primeiro dizer que Indústrias culturais é um conjunto de palavras que surgem inicialmente no singular, depois indústrias culturais no plural e mais tarde agregada à noção de criatividade, complementando-se em indústrias culturais e criativas. Cada uma destas formulações está contextualizada. Eu costumo dizer que o termo indústrias culturais entrou no vocabulário das pessoas de forma mais agressiva possível.

Ao falar da entrada agressiva do termo indústrias culturais no vocabulário social, a sua intuição académica induziu-a a explicar o porquê.

A Escola de Frankfurt que é uma escola alemã, utilizou este termo de indústrias culturais para criticar, para denunciar o fim da arte pela arte e a entrada da arte para o mercado. Na verdade foi uma denúncia de capitalização, denunciar a ideia do capitalismo em torno das artes. E diziam os teóricos da Escola de Frankfurt que a capitalização da arte iria matar a criação artística, arte pela arte. Arte para o mercado, arte como algo para ser transacionado comercialmente foi visto por estes investigadores como algo que não era positivo. Entretanto, a partir de 1980, um outro grupo de investigadores, maioritariamente da Escola Francesa introduzem o conceito de indústrias culturais porque começam a reconhecer que a arte pela arte tem problemas de sustentabilidade. Tem problemas de ela não pagar sua própria conta e mais, é muito exclusivista. Então a ideia de indústrias culturais trouxe a noção de que a arte poderia ser reproduzida. Isto significa que saímos de um contexto de obra única e passamos ao contexto de consumo da arte em massa. Isto quer dizer que os teóricos da Escola Francesa olharam para a arte na perspectiva de democratização da criação, produção e permitir que muitas pessoas tivessem acesso a ela.

Claramente que estas construções são acompanhadas de muitas discussões, mas o que é que significamos e o que é que nós queremos dizer quando dizemos indústrias culturais? Estamos a falar daquela criação artística que tem valor comercial, criação artística que pode ser transacionada. Contudo, eu entendo que seja muito mais do que as relações comerciais, transações e monetização da arte, porque entendo indústrias cultuarias e criativas como sustentabilidade. Sustentabilidade porque a ideia de indústrias culturais ou de indústrias culturais e criativas, para mim coloca no centro de discussão o trabalho do artista como um trabalho profissional. Coloca no centro de discussão a ideia de que a opção pela arte ou por um trabalho na arte não tem que significar uma vida paupérrima.

Infelizmente nas nossas sociedades ainda existe resistência a esta nova dinâmica da arte de tal sorte que se um pai vê sua filha ou filho com um croqui ou máquina fotográfica já logo diz “vai estudar”, se os pais vêm desenhos nas últimas páginas de um caderno do filho logo dizem “porque não fazes coisas mais sérias?!”, alguém toca um trompete, uma guitarra ou uma timbila, e já dizem “deixa lá essas brincadeiras e vai estudar”. Então, a noção de indústrias culturais e criativas vem com esta noção de que se nós fizermos investimento acertado, políticas adequadas e com treinamento adequado podemos criar um emprego sustentável e seguro para este indivíduo que quer exercer a vocação artística,  a vocação criativa. Portanto, em conclusão para mim, indústrias culturais e criativas é sobre sustentabilidade num processo onde há produção de produtos culturais e artísticos e há quem pague por eles.

E como sentimos que a Matilde Muocha referiu-se ao termo arte pela arte, e sendo central para a compreensão de toda sua explicação, até porque referiu-se que a Escola de Frankfurt saiu em defesa da arte pela arte em contraponto à arte de mercado que é a que consubstancia a noção de indústrias culturais e criativas, procuramos saber dela o que é isso de arte pela arte.

E explicou assim – Arte pela arte é a arte que não circula no contexto comercial, fazemos arte por puro hobi, sem uma lógica profissional ou de geração de renda para remunerar a sua profissão.

Desta forma a nossa interlocutora, Matilde Muocha explicou-nos sobre a nossa questão geral sobre as indústrias culturais e criativas. Nas próximas duas edições vai responder-nos a mais questões de carácter específico na área.

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