InícioMúsicaAVANÇOS E FRACASSOS NO MERCADO MUSICAL MOÇAMBICANO

AVANÇOS E FRACASSOS NO MERCADO MUSICAL MOÇAMBICANO

Por: Bernardino Tomo

Engana-se quem pensa que ser músico é uma tarefa tão fácil. É necessário talento, paixão pela música, bons ouvidos, habilidades, dedicação, pesquisa, trabalho de equipa e vontade de praticar constantemente. Ademais, um músico deve investir em aulas particulares de música e se possível aprofundar o conhecimento numa instituição superior, para ter mais habilidades no instrumento, saber ler e compor partituras. No entanto, é este perfil de profissional que se precisa no nosso mercado musical.

Admito que em Moçambique existem bons músicos que até são reconhecidos internacionalmente, fizeram digressões nas melhores cidades do mundo, alguns receberam prémios e chuva de elogios, outros nunca mereceram uma homenagem de peso, no solo pátrio, ainda aguardam pelo reconhecimento, na sombra do “tsek”, espero que não sejam enaltecidos depois da morte.

O nosso mercado musical não apresenta o número de músicos existentes em todo país, não descreve o nível de músicos com emprego formal e nem se quer mostra a percentagem de músicos moçambicanos com curso superior. É importante termos estes dados, tal como acontece nos outros países.

Com vista melhorar alguns aspectos do mercado musical, o nosso país apostou em vários procedimentos. Por exemplo, tivemos a oportunidade de ter a Lei de Defesa do Consumidor (Lei número 22/2009) que “protege o cidadão a adquirir produtos, bens e serviços com a qualidade desejada e em segurança dos seus interesses económicos e reparação de danos”. Mas, para ser sincero, nunca vi os resultados de implementação desta lei, principalmente no contexto musical, mesmo com existência da Associação de Defesa do Consumidor de Moçambique (DECOM). A avaliar pelo nível de instrumentos musicais e discos piratas que se encontram disponíveis em algumas lojas e esquinas, fica claro que ainda não temos uma equipa altamente capacitada para lidar com questões de protecção do consumidor.

Outra acção desenvolvida, particularmente na música e no campo das artes no geral, foi a criação da Associação Moçambicana dos Autores (SOMAS), há mais de 15 anos, considerada uma das soluções certas para o combate à pirataria (obras falsificadas). Este organismo desenvolveu iniciativas, supostamente estratégicas, tais como, intercâmbio com outras sociedades dos autores, memorando de entendimento com algumas entidades e apostou em campanhas de sensibilização contra este fenómeno. Para reforçar o desempenho deste movimento, o governo aprovou a Lei 4/2001 de 27 de Fevereiro (Lei de Direitos de Autor).

O famoso e “polémico” Instituto Nacional de Actividades Económicas (INAE), órgão tutelado pelo Ministério da Indústria e Comércio também exibiu a sua musculatura contra pirataria. Até a Polícia Municipal, por exemplo, da Cidade de Maputo, já fez muitos “truques” de recolha e destruição de milhões de discos. Apesar de tudo isso, os discos piratas ainda desfilam nos passeios e mercados.

No entanto, não é possível falar do nosso mercado musical sem fazer esta viagem desafiante, mas encorajadora, no campo da pirataria, um fenómeno que lesa a vida dos músicos e consequentemente retarda o desenvolvimento da nossa música. A luta contra o ciclo de produção e compra de discos piratas não se limita apenas na fiscalização, recolha e destruição de toneladas de discos, criação de gabinetes e realização de reuniões intermináveis, também é preciso apostar na educação dos moçambicanos. Infelizmente, a nossa população não está habituada a ouvir música de qualidade, sempre vive de música plástica.

Ainda no rol das acções em prol do nosso mercado musical, o Ministério da Cultura e Turismo (MICULTUR) anunciou, em 2015, a preparação da proposta de lei que regula o consumo de música estrangeira no país, um instrumento que desafia as rádios e televisões a transmitirem mais conteúdo nacional. Mas, de lá para cá, nunca mais ouvi falar do estágio desta lei. Mesmo assim, o consumo da nossa música, a nível das rádios e televisões, que havia sido ofuscado pelos angolanos, melhorou bastante, apesar de alguns deslizes.

Pela primeira vez, na nossa história musical, aconteceu a feira do CD da música moçambicana, com objectivo de promover a música nacional, um projecto do famoso e eloquente apresentador de televisão, Fred Jossias. O evento, mais do que proporcionar à venda de discos também serviu para algumas actuações e partilha de experiência. Este projecto vem complementar tantas outras iniciativas de promoção musical, existentes no país.

Fred Jossias, um jovem iluminado e empenhado em prol da música moçambicana, precisa de muito apoio. Infelizmente, muitas organizações/instituições não abraçaram o projecto e nem se quer reconheceram o valor desta iniciativa. No cartaz do evento é visível a ausência do Ministério da Cultura e Turismo (MICULTUR), Instituto Nacional de Actividades Económicas (INAE), da Associação dos Músicos Moçambicanos (AMM0), Associação de Defesa do Consumidor de Moçambique (DECOM) e Associação Moçambicana dos Autores (SOMAS).

Há muita coisa que precisa de ser corrigida, para termos um mercado musical robusto. Existem músicos que mesmo sem terem feito um excelente trabalho preocupam-se apenas com “cachê”, uma remuneração instável e frustrante que resulta, na maioria de casos, das actuações feitas nos bares, restaurantes e nas festas privadas. Alguns músicos tocam em função de bebidas alcoólicas, cigarro ou uma tigela de petisco. Há promotores de espectáculos que não são rigorosos na questão de qualidade, não percebem nada de música ao vivo, desde momento que o som ser projectado nas colunas já é suficiente, não importa em que condições.

As actuações (jam sessions) que acontecem, às quintas-feiras, no intervalo das 18 às 21 horas, no recinto da Associação dos Músicos Moçambicanos (AMM0), têm sido uma autêntica palhaçada e troca de mimos. O artista que não limpa os sapatos do gestor daquele espaço está sujeito a ver o seu desejo de tocar frustrado. É um ambiente turvo, caracterizado por consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, onde cada participante exibe a sua paulada. Há muito desleixo por parte dos músicos. A AMMO não deve se limitar apenas em proporcionar este tipo de espaço, é importante ir mais longe. Por exemplo, nos festivais como Zouk, Kizomba e Jazz, esta organização deve aparecer, pelo menos como parceiro.

Não se justifica que o nosso mercado musical seja caracterizado por muitos músicos que nascem de um dia para outro, lançam dezenas de músicas plásticas e actuam desafinados do início ao fim do show. Precisamos de um mercado musical com critérios que definem um músico profissional e seria bom se existisse uma entidade vocacionada para o registo dos músicos, mediante um exame teórico e prático que possibilita à realização de qualquer trabalho ou iniciativa na área de música.

Para finalizar, em jeito de avaliação do estágio do nosso mercado musical, no intervalo de 0-10, dou 6 pontos.

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